17 de dezembro de 2011

“LIXOS” PECULIARES



Adriana Teixeira Simoni

Invariavelmente tudo que não queremos mais é considerado lixo.  Porém esse algo que não nos serve que perdeu a beleza, a utilidade, a graça e que se encontra demais em nosso armário, sótão, despensa, que já enfeitou nossa casa e que agora enjoamos, não deve ser considerado necessariamente “lixo”.
Muitas pessoas sentem-se incomodadas de oferecer algo usado a outra pessoa, provavelmente porque ela mesma carrega o sentimento de desprezo por algo que não é novo, que não sai da loja embalado com etiqueta e validade. Lógico que jamais devemos esquecer que este “algo” deve estar em perfeito estado, que ainda funcione, e que apresente possibilidades de uso por outra pessoa ou família.
Esse sentimento de desprezo pelo bem usado acaba fazendo pessoas jogarem na lixeira da calçada de suas casas objetos que poderiam transformar a vida de outras pessoas. Poderiam ser o “algo” mais que falta na vida de muitos por aí.
Já tive oportunidade de ver de tudo durante minhas caminhadas pelas ruas da cidade, mas o que me chamou a atenção em 2009 numa lixeira foi um aparelho ortopédico de tração dorso/cervical ajustável para qualquer tamanho em perfeito estado. Isso prontamente me motivou a pegá-lo e encaminhá-lo a uma instituição que pudesse aproveitá-lo, mas me levou também a pensar porque aquela pessoa que o jogou na lixeira não pensou da mesma maneira? Se de fato instituições filantrópicas penam por recursos esse aparelho seria muito bem vindo, pois afinal poderia ser útil a alguém e sendo assim o receberiam com muito gosto, como o fizeram quando o entreguei para uma fisioterapeuta de uma instituição para crianças.
 Histórias com “lixo” não me faltam, tem também outra vez que encontrei uma cadeira de rodas que necessitava apenas higiene e lubrificação. Bom se o pensamento for de que o catador de reciclagens a levaria, muito bem, porém talvez a levasse para virar brinquedo do filho até acabar-se ou ser vendida como ferro velho, porém penso que ela ainda poderia merecer um final mais digno ajudando alguém temporariamente. E sendo assim, providenciei reparos com a ajuda de um amigo e encaminhei a outra instituição.
Mas tem também um dia mais especial que tem tudo a ver com a época natalina, na qual encontrei uma boneca que estava com o braço arrancado e a cabeça deslocada, porém era um bebê de feições tão perfeitas e de material tão bom que resolvi levar para casa e restaurá-la. Encontrei-a jogada numa rua de terra, molhada pela chuva e suja, o brinquedo foi desprezado por que se encontrava tecnicamente destruído. Porém, ainda vi potencial para um belo brinquedo a uma criança ávida por uma boneca e sem possibilidades de ser contemplada com semelhante.  Reparei-a com um novo corpinho de pano, higienizei, apliquei cheirinho e roupinhas de bebê, acrescentei mais alguns adereços e pronto, ficou perfeita!
Como era inicio do mês de dezembro busquei adotar  uma cartinha na Associação Comercial  de alguma criança que desejasse ganhar uma boneca de presente do Papai Noel e prontamente encontrei  uma menina que estava desejosa de ganhar um bebê que falasse. Foi realmente muito emocionante proporcionar essa surpresa a essa garotinha de oito anos, uma ótima dica para quem quiser fazer uma criança carente acreditar num sonho.
Portanto, neste final de ano haja com peculiaridade com o seu lixo e verá possibilidades de colocar em prática a sustentabilidade, pensando tanto no ambiental quanto no social, pois o que não lhe serve mais hoje pode realizar o sonho de alguém, além de contribuir com um viver mais simples capaz de proporcionar um impacto menos profundo durante a sua caminhada no planeta.

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